quarta-feira, 19 de março de 2008

AURITA MARIA DE OLIVEIRA- Entrevista

Davilmar- Aurita, que tal comecarmos esta entrevista pedindo a voce para se apresentar para os nossos leitores?
Aurita- Tudo bem. Me chamo Aurita Maria de Oliveira, nasci em Pedra Azul, Minas Gerais, em 20 de novembro... so' nao vou falar o ano (risos).
Davilmar- E nem deve. Antes de comecarmos esta entrevista voce prometeu nao mentir (risos).
Aurita- Tive uma infancia maravilhosa. Posso dizer que fui uma crianca feliz, gorda e pirracenta. Quando eu era pequena, pedia dinheiro para comprar coisas numa bodega que tinha perto da escola. La' em casa a gente tinha de tudo e minha mae dizia que nao ia me dar dinheiro. Mas eu pirracava tanto que ela acabava dando alguns trocados. Eu vencia ela pela pirraca. O curso primario eu fiz em Tumiritinga, perto de Governador Valadares. Depois a familia mudou-se para Governador Valadares e foi la' que eu terminei os estudos, no Colegio Prebiteriano. Depois disso, fiz o Vestibular e fui estudar na FAFI, onde me formei em Pedagogia. Cheguei a fazer estagio como professora mas nunca dei aula. Quando me formei eu ja' trabalhava numa financeira. Foi o meu primeiro emprego e durou cerca de 14 anos. Depois, prestei um concurso para o Centro Regional de Saude e fui trabalhar no setor de almoxarifado. Eramos nove irmaos: Estela, a mais velha, Zilda, Almir, eu, Nidia, Marilene, Nilton, Valmir Jose e Maria Elisa. O Almir ja' morreu. Marilene, Estela vivem aqui em Nova Iorque.

Davilmar- No Brasil, voce sempre foi essa mulher religiosa que a gente conhece hoje?
Aurita- Eu sempre ia a Igreja mas nunca estive envolvida com as coisas da Igreja. Sempre fui de ir a missa todos os domingos, na Catedral de Santo Antonio, ate' mesmo porque la' em casa, se nao fossemos a missa, a gente nao podia ir dar a volta na pracinha (risos). E na Igreja, nao tinha esse negocio de conversar muito, nao. A gente sentava e tinha de ficar quietinhos e muito comportados. A gente tinha ate' de tomar a bencao ao padre.

Davilmar- Quando crianca voce ja' dava mostra deste talento que voce tem para fazer bolos e doces deliciosos?
Aurita- A boleira na minha familia era a minha mae. Eu nao sei bem como surgiu o meu interesse por culinaria. Isso foi aparecendo aos poucos.

Davilmar- Conta como surgiu a ideia de vir para a America?
Aurita- Foi assim: a Estela ja' morava aqui, e pai faleceu em maio de 1991. Ele ja vinha doente de algum tempo e quando foi em 24 de maio e faleceu. Eu fiquei arrasada. Quando foi em agosto do mesmo ano eu operei de vesicula e falei pra mae que eu queria vir para a America. Ela disse, vamos ver Aurita, se voce vai. Em fevereiro de 1992 eu vim.

Davilmar- Voce ja' veio com o objetivo de permanecer aqui?
Aurita- Bem, eu vim para trabalhar mas, eu nao estava muito certa se ia continuar, se ia ser por muito tempo. Minha mae morreu quando eu ja' estava por aqui ha' uns dois anos e meio... e nunca mais voltei.

Davilmar- E como foi o comeco aqui em New York? voce chegou e ja' foi logo trabalhando?
Aurita- Eu cheguei em 01 de marco de 1992 e, em 23 de abril eu comecei a trbalhar, fazendo comida num apartamento na Park Avenue, 84.

Celia- A sua irma, Estela, trabalhava em que nesta epoca?

Aurita- Fazendo comida, faxina...

Davilmar- E voce ficou chocada quando soube que poderia fazer esse mesmo tipo de trabalho?
Aurita- Nao tive choque, nao tive nenhuma reacao. Nunca questionei isso. Deus me deu essa graca de saber cozinhar e e' isso que eu sei fazer e muito bem.

Davilmar- Voce ja falava ingles quando decidiu vir para a America?
Aurita- Eu sabia o ingles que a gente aprende nas escolas do Brasil, ou seja, quase nada.

Davilmar- Quando voce chegou, foi facil se integrar na comunidade, ter uma vida social regular?
Aurita- Bem, de cara eu fui logo conhecendo as pessoas que se relacionavam com a Estela, e comecei a ir a igreja aos domingos que coincidiam com as minhas folgas, isso porque o meu primeiro trabalho foi no campo. Eu cheguei em 1 de marco e comecei a trabalhar no dia 5 do mesmo mes. Trabalhei no campo ate o dia 22 de abril. Eu nao esqueco esta data. Depois disso, tive um trabalhinho que durou muito pouco e, em seguida, fui para a Park Avenue...
Celia- Nossa! que chique. Igual a minha comadre!
Aurita- Foi na Park Avenue com 84, depois fui para a 5a. Avenida com 80, e o meu terceiro trabalho foi com a Catarina, antes do acidente, na 83 com a Park Avenue.

Celia- Quem e' a Catarina?
Aurita- A minha ultima patroa...
Celia- Nossa! que intimidade! Chique do ultimo!

Davilmar- Quando voce chegou, como voce encontrou a nossa comunidade catolica aqui em Astoria?

Aurita- De cara, eu conheci a Soninha, que morava em frente a casa de Estela, minha irma. Depois disso, fiquei conhecendo Miguel e Anderson, se nao me engano, em uma das reunioes do Grupo de Oracao que, naquela epoca, eram feitas nas casas de brasileiros. Agora, a primeira vez que fui a uma igreja, aqui em Nova Iorque, foi naquela que tinha na rua 61, em Manhattan.
Davilmar- E como foi isso?
Aurita- Eramos uma turma: a Soninha, Miguel, Anderson, Regina, Elma, Lygia e umas poucas pessoas mais. Era um grupo pequeno, e como a missa era em Manhattan, a gente nao ia todos os domingos.
Kiki- So' para acrescentar um pouco mais, nessa epoca estava havendo um problema com o Metro, e demorava-se muito para chegar na Igreja. Porisso a maioria das pessoas nao estava mais querendo ir para Manhattan. A turma mais assidua era formada por, Regina, Soninha, Rosangela, Miguel e Anderson. Os demais, iam de vez em quando.
Aurita- Eu queria dizer tambem que, embora a Soninha tenha sido a pessoa que, praticamente, me encaminhou para a igreja aqui em Nova Iorque, foi a Estela quem me apresentou a todas as pessoas que ela ja' conhecia aqui, inclusive para a Soninha, que como eu ja' disse, morava em frente ao nosso predio, aqui em Astoria, na Broadway.

Davilmar- Alem dessa rotina de ir a igreja aos domingos, participar das reunioes do Grupo de Oracao e trabalhar, o que mais voce fazia para preencher o tempo? A Soninha, por exemplo, disse na entrevista dela que, no inicio, gostava muito de ir a festinhas e barzinhos com os amigos. E voce, o que fazia?
Aurita- Eu cheguei a fazer parte do grupo de amigos dela e costumavamos ir nas festas. A gente andava muito bem arrumadinhas. E' so' dar uma olhada nas fotografias daquela epoca que voces vao ver. A gente andava de mini-saias, voces precisavam ter visto.
Kiki- Elas gostavam de ir para a Panamerican, uma discoteca da moda, que tinha em Queens Boulevard.
Aurita- A gente ia pra divertir e nao nos envolviamos com nada mais alem disso. Eu gosto de lembrar desta epoca. Hoje em dia eu nao gosto de sair, mas quando saio eu me divirto. Eu sei que tem gente que vai nas festas so' pra' arranjar namorado, mas eu nao, eu vou e' pra' curtir mesmo, e nao sou daquelas que ficam pegando no pe' dos outros pra' vir embora. Tem gente que e' assim. Soninha era um barato! Ela vestia cada roupa... ela era muito divertida.
Celia- Quer dizer que ela vestia aquelas sainhas bem curtinhas da epoca?
Aurita- Nossa Senhora! voce tinha de ver! Depois que se converteu, ela entrou numa "beatice" que ninguem aguenta. (todos acham muita graca). Eu nao, eu continuei a mesma de antes, com a mesma fe' que eu tinha. Nao mudei nada.

Davilmar- Eu perguntei a Soninha o foi que fez com que ela desse essa "virada" e ela nao soube explicar.
Aurita- A Soninha se converteu e virou outra. Ela ia em cartomante, centro espirita e tudo o mais que aparecesse. No dia que ela deu um testemunho, numa das reunioes do Grupo de Oracao, ela comentou comigo, "Aurita, gracas a Deus que eu fui libertada daquela vida!"

Davilmar- Como foi que voce comecou a se envolver mais com a Igreja?
Aurita- Comecei participando das missas na igreja da rua 61. Depois, passamos para a igreja da rua 49, e participava das reunioes do Grupo de Oracao nas casas. Agora, lembrar de um momento exato de como tudo comecou, eu nao me lembro... sabe, eh tanta coisa na cabeca... Alem do mais, as coisas foram acontecendo aos pouquinhos... Quando a gente nao ia para Manhattan, nos domingos, a gente se reunia na casa de alguem, geralmente, nas segunda-feiras. A gente se reunia muito na casa da Elma e dos Pimenta. Nessas reunioes, rezavamos o Terco e depois tomavamos um cafe' com alguns biscoitos ou bolo. Do mesmo jeito que acontece agora nos encontros da Rosa Mistica. So' que a gente nao acompanhava nenhuma santa. Lembra da Cristiane, aquela que morreu no Brasil? Na casa dela a gente rezava com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Essas reunioes eram feitas nas casas de todos os brasileiros que quisesse abrir a porta e nos receber.

Davilmar- Como foi que comecou a surgir a Igreja Most Precious Blood (MPB) na historia da nossa comunidade?
Aurita- Acho que foi com a Missa de Setimo Dia que foi rezada para a mae do Anderson.

Davilmar- Voces nao se reuniam la'antes?
Aurita- Davi, eu nao me lembro desse detalhe. Me lembro dessa missa... Pensando bem, ja' que essa missa foi rezada la', e' provavel que o nosso grupo ja' se encontrava la'. Mas nao lembro dos detalhes. Nem me lembro se essa missa foi na igreja de baixo ou na de cima.

Davilmar- Podemos dizer que esse grupo de brasileiros tinham um lider, alguem que se encarregava de marcar reunioes e determinar os passeios, etc?
Aurita- Nao... eu acho que nao... A coisa nao era assim muito rigida. Hoje em dia, por exemplo, a Rosa Mistica tem uma agenda onde sao marcados os encontros com ate' 1 ano de antecedencia. Naquela epoca, nao era assim. Eramos um grupo muito pequeno. Nossos encontros eram decididos durante a semana e cada um avisava ao outro.
Kiki- Era mais ou menos assim mesmo. Muitas vezes a gente se cruzava na rua, pois todos moravam mais ou menos perto, e um convidava o outro, "olha, vou fazer um bolo amanha. Vamos la pra casa. Avisa fulano." E esse fulano avisava outra pessoa e, quando a gente dava por fe', tava todo la'. A gente rezava o terco e depois tomava cafe' e colocava as fofocas em dia. Nao tinhamos um lider mas, tem uma coisa, se alguem queria fazer uma festa, todos recorriam a Elma para pedir uma ajuda, porque ela era muito boa para organizar essas coisas.

Davilmar- Fora esses acontecimentos rotineiros, houve algum evento ou comemoracao que tenha mobilizado o interesse de todos dessa comunidade?
Aurita- Houve uma festa junina. Outro dia eu encontrei um caderno do Anderson, no qual ele fez uma relacao com os nomes de cada um de nos e o que deveriamos fazer. E la' estava escrito, Celinha- refrigerante, Aurita, Estela e Mercia- feijao tropeiro. Era uma epoca que todo mundo fazia feijao tropeiro. A gente nao fazia esse negocio de salgadinhos. Era comida, mesmo.

Neto- Voce lembra daquela festa junina que colocaram a Celia para falar e ela falava igual uma galinha? e o povo comentava: "mas que mulher que tem uma voz franga!" (Todos acham graca.) Nossa Senhora! ela inventou de cantar uma quadrilha, lembra? ai' o Miguel chegou perto dela e falou "Celia, engrossa a voz!" (Mais risos).

Aurita
- Ah, isso ja' passou. Agora, naquele tempo, a gente era uma comunidade pequena, nao tinhamos dinheiro, mas eramos felizes. Acho que o dinheiro e' bom porque ele nos possibilita fazer caridade. Quando eu vejo aqueles predios da Igreja Santa Rita, sem nenhuma utilizacao pratica..., olha e' muito triste! Fico imaginando essa riqueza toda e a nossa diocese nao sabe distribuir... e tanta gente passando necessidade... Gente, vende isso, aluga, faz alguma coisa!
Celia- Eu acho que eles estao indecisos. Fecha, nao fecha, ou entao...eles ja' venderam e estao esperando o dinheiro...
Aurita- Nao e' justo ficar aquilo tudo ali parado, sem uso...

Davilmar- Aurita, o que voce pensa hoje sobre a nossa comunidade? Voce acha mesmo que eramos mais felizes naquela epoca, quando eramos uma comunidade menor?
Aurita- Era tudo muito diferente. Acho que eramos mais unidos. Todo se conheciam.
Celia- Voce tem de ver que muita gente que era daquela epoca ja' foi embora...
Aurita- E' verdade. E tem gente que esta' afastada...
Celia- A gente pode ver pelas fotos da epoca. A Rejane, a Nida... A Nida era uma gracinha... Mas eu entendo que essa gente ficou um pouco afastada por causa das criancas. A familia vai crescendo, as criancas exigem atencao o tempo todo... Os pais devem ficar muito ocupados... e nao tem condicao de irem em todas as reunioes, nas missas... Quero dizer, ate' poderiam ter mas... sei la', a barra deve pesar. Quando as criancas crescerem e nao exigirem tanta atencao dos pais, eles voltam.

Davilmar- Quem era o padre, quando voce comecou a frequentar a igreja, na rua 61?
Aurita- Era um padre americano, so tinha ele para rezar as missas. Agora o nome dele eu nao lembro. Gente, depois do meu acidente a minha memoria piorou. E quando olho os retratos, as vezes eu ate' posso conhecer as pessoas mas nao consigo me lembrar dos nomes... Sabe, eh tanta coisa acontecendo, o tempo vai passando... a gente tem de escrever e documentar tudo, se nao esquece mesmo.
Davilmar- Quem levou voce para a igreja, aqui em New York?
Aurita- Foi a Soninha. Agora eu vou dar um pulo no passado. Nessa epoca, alem de mim, a Marcia, a Fatima (a dentista), gente eu estou vendo todo eles agora... tinham umas meninas que eram de Manhattan, a Joventina... Nao adianta, nao consigo me lembrar dos nomes todos.... tinha a Tania Mara... O padre, nao era muito velho..., tinha a cabeca branca mas nao era muito velho. E quando acabava a missa, a gente voltava de trem, na maior farra!

Davilmar- Voce chegou a tomar conhecimento, naquela epoca, que a comunidade precisava encontrar outra igreja porque aquela ia ser demolida?
Aurita- Eu nao participava das reunioes onde essas conversas aconteciam, mas eu me lembro que fomos para uma igreja, na rua rua 34. Eu assisti algumas missas la'.
Celia- Eh, fomos para a igreja da rua 34. Depois disso chegou o Padre Luis.
Neto- Eu me lembro que, a missa para o Tom Jobim, foi rezada por ele.
Aurita- Depois, fomos para a igreja da rua 49. Em seguida fomos para uma igreja no Village, a Igreja de Nossa Senhora da Pompeia.

Davilmar- O que voce poderia nos dizer da primeira missa em portugues, aqui em Astoria?
Aurita- Foi uma Missa de Setimo Dia, para a mae do Anderson, mas nao consigo me lembrar o dia. Ja' ate' pensei em ligar para ele, no Brasil, para perguntar qual foi o dia. Eu ja' perguntei ao Miguel, mas ele nao lembra. Eu acho que essa missa foi celebrada pelo Padre Checon, na igreja de baixo. Teve a missa para a mae do Anderson e, teve tambem a Missa de Setimo Dia para a minha mae, que faleceu em 9 de fevereiro, e a dele foi no dia 23 do mesmo mes, em 1994.
Davilmar- O Padre Checon nao estava aqui em Nova Iorque nesta epoca, pelo que apuramos nas outras entrevistas.
Aurita- Na verdade, eu nao consigo me lembrar. Eu me confundo com a missa que foi celebrada para minha mae e a que foi celebrada para a Priscila, sobrinha da Elma, que foi rezada na igreja de baixo, pelo Padre Checon. Essa eu tenho certeza.

Davilmar- Voce quer dizer que a missa celebrada para a mae do Anderson foi a mesma celebrada para a sua mae?
Aurita- Foi sim. Foi para a minha mae e para a mae dele.

Davilmar- Mas teve tambem uma outra Missa de Setimo Dia, que foi rezada para outro brasileiro que havia falecido...
Celia- Eh... foi uma missa rezada para o irmao da Dra. Monique...
Aurita- Teve essa missa sim, que foi antes da missa da mae do Anderson e de minha mae. Essa missa foi celebrada na igreja de cima.
Celia- Parece que, depois dessa missa que foi celebrada para o irmao da Dra. Monique, o padre da MPB viu que havia um numero significativo de brasileiros aqui em Astoria e permitiu que a nossa comunidade tivesse acesso a igreja de baixo para as missas em Portugues.
Davilmar- Resumindo, pelo que apuramos ate' agora, a primeira missa em Portugues foi a celebrada para o irmao da Dra. Monique, e a primeira missa para a comunidade brasileira foi a celebrada para a mae do Anderson e sua mae.
Aurita- Isso mesmo.

Kiki- Teve uma missa que foi celebrada na igreja da rua 31, aqui em Astoria, pelo Padre Checon. Que missa foi essa?
Aurita- Minha filha, foi a Missa do Lava-Pes, voce nao lembra? Clarice, Rosana e Regina estavam aqui em Nova Iorque! A Semana Santa foi celebrada la'. Eu me lembro ate' da bacia branca de plastico que foi usada.
Kiki- Bom, eu nao me lembrava desses detalhes.

Davilmar- E dai pra frente, o que aconteceu com a comunidade brasileira?
Aurita- Ai o Grupo de Oracao passou a se reunir numa sala da MPB, uma vez por semana.
Davilmar-Voce quer dizer que, oficialmente, o Grupo de Oracao nao existia. Aurita- Sim.

Davilmar- Eu frequentei o Grupo de Oracao por uns tempos, la na' MPB, e nessa epoca todos assinavam um livro de presencas. Esse livro ainda existe?
Aurita- Deve existir, mas nao me lembro quem ficou com ele.
Celia- Alguem andou procurando por este livro e comentaram que ele teria ficado guardado junto com as coisas da igreja, mas o Padre Jose' Carlos disse que nao encontrou...
Aurita- Olha, tinha album de retratos, tinha muita coisa. Sumiu tudo...
Kiki- Eu me lembro que fizemos muitas festinhas ali naquela salinha...
Celia- Parece que haviam algumas caixas que foram transportadas da MPB para a Saint Patrick, dai' para o escritorio da Steinway e depois aqui para a Igreja Santa Rita.
Aurita- Pois e'... mas o pessoal que estava envolvido com estas mudancas que deixou perder... eu sei que ali tinham muitas coisas e muita informacao que poderiam ser uteis hoje em dia.

Celia- Voces ja falaram do Curso de Eucaristia?
Davilmar- Que curso?
Celia- Quando o Padre Luis criou o grupo de Ministros da Eucaristia...
Aurita- Foi o Padre Luis e o Padre Checon...
Davilmar- Nao tocamos neste assunto ainda. Voce poderia falar sobre isso?
Aurita- Isso aconteceu na Igreja Saint Patrick. O Padre Luis perguntou quem queria ser Ministro da Eucaristia. Inclusive, ele convidou a Elma, mas ela nao aceitou. Ele convidou o Adriano, da Alexandra, Seu Mendonca, Soninha, Cecilia, Elton, de Manhattan, Leda, Silvia e eu. Eu e a Silvia eramos da Igreja Saint Patrick, Soninha e Seu Mendonca, e Adriano eram da MPB, Elton e Leda eram da igreja de Manhattan.
Celia- E a Renata?
Aurita- A Renata nao fez o curso. Ela era da igreja de Manhattan, nessa epoca. O Padre Checon deu uma bencao para ela e a tornou Ministro da Eucaristia.

Davilmar- A Silvia que voce mencionou, e' a Silvia do Carlos?
Aurita- Nao... essa Silvia era uma que so' frequentou a Igreja Saint Patrick. Ela era uma baixinha que falava alto, e todos a chamavam, carinhosamente, de "Velha". Entao, o Padre Luis e o Padre Checon deram o curso pra' gente. Eu tenho todo o meu material de estudo guardado em uma pasta ate' hoje. Este foi o unico curso que eles deram. Se voce for na diocese e perguntar, o curso que eles ministram la' e' de apenas duas horas de duracao, entao, o que eles deram pra' gente e' muito mais profundo, porque durou cerca de quatro ou cinco semanas.

Davilmar- Neste curso eles mencionaram quando a missa pode ser celebrada sem a presenca do padre?
Aurita- E' o seguinte: na falta do padre, o ministro pode celebrar a missa, exceto a parte da consagracao. Outra coisa que o ministro da eucaristia nao pode fazer e' dar a bencao do Santissimo Sacramento. Nos podemos pegar o Santissimo e colocar no altar para as pessoas ficarem orando, mas nao podemos abencoar com o Santissimo Sacramento. Somente o padre pode fazer estas duas coisas. Se as hostias estiverem consagradas, nos podemos dar a comunhao para os fieis.

Davilmar- Houve uma ocasiao que foi celebrada uma missa sem a presenca do padre. Voce lembra quando foi?
Aurita- Eu nao estava presente, mas sei que esta missa foi celebrada pela Soninha e pelo Seu Mendonca.
Davilmar- A Soninha diz na entrevista dela que esta missa foi celebrada por voce, Mendonca e ela.
Aurita- Nao, eu nao estava nesta missa... ah, agora me lembro... eu estava sim. Inclusive, varias pessoas foram embora porque nao aceitaram que a missa fosse celebrada por um Ministro da Eucaristia. O que a gente faz e' muito simples. Tem as leituras que a gente faz, e o ritual que esta descrito no folheto e no livro. Inclusive, como tinha hostias consagradas, demos a comunhao, embora muita gente nao tenha aceitado.
Kiki- Sempre tem hostias consagradas no Santissimo, e sao essas hostias que os ministros podem ter acesso.
Aurita- Antes de comecar a missa, uma das tarefas dos ministros e' abrir o Santissimo e verificar se tem hostias consagradas. Se nao tem, ou se nao tem suficiente, a gente providencia para que mais hostias entrem com o ofertorio para serem consagradas pelo padre.

Davilmar- O Padre Luis ministrou outros cursos abertos para a comunidade ou foi apenas este curso para formacao de Ministros da Eucaristia? A Sonia diz, na entrevista dela, que ele deu varios cursos e que no inicio muitas pessoas assistiam, porem no final, o numero de pessoas ia diminuindo, razao pela qual ele teria desistido de ministrar mais cursos.
Celia- Mas isso continua acontecendo ate' hoje em dia. O Padre Jose' Carlos, por exemplo, tem dado tantos cursos para a comunidade. No comeco a sala fica cheia e la' pelo meio do curso as pessoas vao parando de ir, de forma que quando o curso chega no final so' tem mesmo uma meia duzia de gatos pingados, que por coincidencia, sao sempre os mesmos.
Aurita- O Padre Luis sentava com a gente e nos orientava como fazer a preparacao da missa. Eu sou grata a ele pelo muito que sei. Ele tinha muito capricho na preparacao de uma missa.
Celia- Aurita, comparando aquele tempo em que voce era uma pessoa super ativa na comunidade, participava do conselho, ajudava na missa e estava na frente de quase tudo, e atualmente., como voce ve nossa comunidade?
Aurita- Nossa comunidade evoluiu muito. Claro que quando eramos menores, a gente era mais unida, todos se conheciam. Hoje,nem sei quantos somos. As vezes me sinto perdida no tempo quando me lembro disso. Nossa comunidade cresceu muito e, claro que tem seus pontos altos e baixos. Nao podemos deixar de reconhecer que ela melhorou muito de la' para ca'. Mas, se olharmos direitinho, veremos que muitas coisas ainda podem ser melhoradas.

Celia- O que voce citaria dentre essas coisas que podem ser melhoradas?
Aurita- Ah, Celinha... tem muita coisa que pra andar vai ter que dar um empurrao.
Celia- Eh, parece que a diocese quer ter a participacao de mais brasileiros em outras areas. Por exemplo, Colege Point, Bay Side, Flushing... Mas, e' preciso um numero de pessoas suficiente para que outra comunidade seja formada.
Davilmar- E qual seria esse "numero de pessoas suficiente"?
Celia- Ah, o que a diocese pede... umas cincoenta pessoas, nao sei... Tem o Woodside, tambem, que tem igrejas que pode acolher uma comunidade brasileira. Tem uma meia-duzia de pessoas que querem mas estas pessoas sozinhas nao conseguem trazer mais gente para a igreja.
Aurita- E' o que eu queria falar, primeiro a gente tem de estruturar o lugar onde estamos para depois ir abrindo outras frentes, porque tudo o que se faz sem estrutura nao da' certo.
Celia- Eu tambem acho. Mas temos de ver que o Padre Jose' Carlos esta' so'. Se pelo menos tivessemos um outro padre estariamos em melhor situacao, principalmente em relacao aos jovens de nossa comunidade.
Aurita- Principalmente, essa parte dos jovens...

Celia- Por exemplo, essa e' a ultima turma de Primeira Comunhao da Cassia, porque ela esta' planejando voltar para o Brasil. E eu pergunto, quem vai ficar no lugar dela?
Aurita- Aninha! Ve-se a Aninha do Bigu pode. Ela e' quem fazia essa preparacao antes.
Celia- O Padre Jose Carlos disse que existem duas pessoas que estao sendo sondadas para isso.
Aurita- Pois pode falar que a Aninha esta' disponivel e vai querer dar essa preparacao. Foi ela e a Silvia que comecaram esse trabalho em nossa comunidade, la' na Saint Patrick. Gente, a Cassia esta' indo embora...
Celia- Ela tem se preparar para ir, e isso toma muito tempo, da' muito trabalho. Eu acho ela perfeita. Mas tudo se ajeita. Lembra quando a professora de Portugues saiu e que foi dificil encontrar uma substituta? Quando se pensava que nao iamos encontrar ninguem, a Nair apareceu. E a Nair e' otima, tambem.

Aurita
- A nossa comunidade e' nova e vai se estrutando aos poucos. Eu sempre fui catolica, mas nunca fui envolvida com as coisas da igreja como sou agora. E como eu, os demais tambem. Todos aprendemos aqui. Eu acho que Deus tinha um plano para mim. Por exemplo, toda a minha vida fui catolica, me criei dentro da igreja, mas eu nao era envolvida com nada. Ai, vim para a America e, aos poucos, fui me envolvendo e deu no que deu. Ja'me chamam ate' de beata. (risos). Tem hora que eu para e penso, "olha, eu fui sair do Brasil pra me envolver com a igreja aqui em Nova Iorque". So' pode ser o plano que Deus tinha para mim.
Davilmar- Voce quer dizer que esta teria sido a razao pela qual voce veio parar aqui, ou seja, participar ativamente de uma comunidade em formacao e trabalhar para que ela pudesse se consolidar e crescer como agora? Teria sido essa uma missao que Deus tinha para voce?
Aurita- Eu penso assim. Olha, eu sou uma mulher feliz, ja' tive muitos momentos de tristeza, ja' chorei muito, mas tambem ja' tive inumeros momentos alegres em minha vida. Ja' ri muito, assim como ja' tive momentos nos quais eu disse que nao iria mais botar meus pes la' na Igreja Santa Rita, por causa de aborrecimentos que tive com colegas. Mas eu pensava melhor e concluia que eu nao vou a igreja por causa de ninguem. Eu vou por causa de Jesus. Esta semana eu estava comentando com a Sonia como Deus e' bom. Na minha vida, por exemplo, Deus tem estado presente o tempo todo, e eu posso dizer que,apesar de todas as dificuldades que tenho enfrentado, sou uma pessoa feliz.

Davilmar- Aurita, para terminar, voce gostaria de fazer alguma colocacao, deixar alguma mensagem... Talvez voce gostaria que tivessemos feito uma pergunta e nao fizemos... Voce gostaria de comentar alguma coisa?
Aurita- Olha Davi, eu queria voltar aquele assunto dos jovens. Acho que a nossa igreja precisa fazer alguma coisa por eles. Eu sempre me coloquei a disposicao para ajudar no que for preciso e que esteja ao meu alcance. Essa e' uma preocupacao que eu tenho. Na minha opiniao, esse pessoal que esta faz parte do Conselho de Pastoral, mais o Padre Jose' Carlos, tem de fazer alguma coisa. Voce ve hoje a quantidade de criancas que existem em nossa comunidade, daqui ha' mais algum tempo eles serao os jovens dos quais estou falando. Temos de organizar um grupo para eles, dar mais assistencia e traze-los para a igreja.

Davilmar- Voce poderia citar alguns nomes de pessoas que, na sua opiniao, estariam aptas para coordenar a criacao e a manutencao de um grupo de jovens em nossa comunidade?
Aurita- Este e' um assunto delicado. Temos de encontrar alguem...
Davilmar- O que voce me diz, Celia?
Celia- Eu nao sei. So' sei que temos de encontrar alguem...
Kiki- Precisamos de uma direcao...

Davilmar- Na sua opiniao, Kiki, como deveria ser a estrutura de um grupo de jovens para funcionar bem em nossa comunidade?
Kiki- Ah, Davi... essa e' uma pergunta dificil de ser respondida... teria de ser uma pessoa que estivesse acostumada a dirigir um grupo de jovens, porque o jovem precisa de muito incentivo. Sem incentivo o jovem nao ira' a lugar nenhum.

Davilmar- Voces acham que temos alguem capaz de assumir esta responsabilidade ou teremos de buscar essa pessoa fora de nossa comunidade?
Kiki- Eu acho que a orientacao tem de vir de fora. Trazer alguem de fora para dirigir um grupo de jovens em nossa comunidade nao seria a solucao. Tem de ser alguem acostumado com esse tipo de trabalho, porque o jovem precisa de uma dinamica especial, ele precisa entender o sentido do que vem a ser uma igreja. Alem do mais, o jovem precisa de alguem que fale a sua linguagem e que transmita seguranca e confianca para que possa ser desenvolvido um trabalho produtivo, nao so' para o jovem como tambem para a igreja.

Davilmar- Na opiniao de voces, nos temos essa pessoa em nossa comunidade?
Kiki- Na minha opiniao, ainda nao temos essa pessoa em nosso meio.
Celia- Tambem acho que nao. Me lembro do Padre Roberto Lettieri falando na entrevista que fizemos com ele, que o jovem precisa da pessoa certa para falar com eles e a comunidade inteira tem de apoiar e ajudar.

Kiki
- Sempre me coloquei numa posicao de ajudar no que for possivel, porque eu acho que eu me adapto para qualquer tipo de trabalho. Eu nao tenho nenhum obstaculo em ajudar criancas, jovens, idoso, casais... nem nada. Na minha opiniao, o jovem tem de ser incluido em nossas atividades, ele nao pode ser isolado apenas num grupo com atividades para jovens. Eu acho que ele tem condicao de ajudar nos bastidores de um encontro de casais, como este que vamos ter no proximo sabado. Quando ele se perguntar "porque que eu estou fazendo isto?", ele tera' a resposta imediata, ele esta' fazendo isso porque os pais dele estao ali naquela reuniao, naquele encontro, aprendendo a se relacionar melhor um com o outro e com os filhos tambem.
Davilmar- Voce acha mesmo que isso seria possivel?
Kiki- Vou citar um exemplo, para mim, a melhor festa do Dia das Maes que ja' tivemos em nossa comunidade, da qual eu participei, foi uma que tivemos na Igreja Saint Patrick, onde os meninos se vestiram adquadamente e foram servir de garcons, e as maes nao foram para a cozinha. Na epoca, o Miguel e outros rapazes solteiros foram pra cozinha preparar a comida, lavar os pratos e fazer a arrumacao no final da festa. Na minha opiniao, esta foi a melhor festa do Dia das Maes que tivemos ate' agora. Se for uma festa para os jovens, quem deve preparar sao os pais.

Celia- Quando o Cardeal Dom Serafim visitou a nossa comunidade, a Taninha teve a ideia de colocar os jovens para ajudar como garcons. Ficou um trabalho muito bonito. Logico que ela deu uma "caixinha" para eles, mas a ideia de aproveitar o jovem, de integrar o jovem nas atividades da comunidade foi maravilhosa. O jovem precisa ser valorizado e seu trabalho ser apreciado. Ele precisa ser reconhecido pela sua comunidade como elemento produtivo e estimulado a continuar participando.
Kiki- Volto a falar, essa ajuda para os nossos jovens tem de vir de fora. Eu ja' estou cansada de dizer isto.
Aurita- Eu tambem acho.

Celia
- Vamos voltar a discutir este assunto no conselho. O mes de setembro e' o mes dedicado a formacao de grupos de trabalho, de formacao paroquial, e o Padre Jose' Carlos vai fazer um trabalho voltado para a evangelizacao, etc. Com relacao ao jovem, ele bate o pe' e afirma que a igreja nao tem recursos financeiros para preparar alguem para cuidar dos jovens. Na minha opiniao, se nao tem dinheiro agora para preparar esta pessoa, nao teremos igreja no futuro. O jovem e' o futuro da nossa igreja. Eu acredito que a realidade e' que a nossa igreja ainda nao tem um plano de trabalho voltado para a juventude, dai' ficarem esperando que a comunidade tome a frente e passe a cuidar deste assunto.
Aurita- Acho que o nosso padre tem de estar na frente para tomar estas providencias e dar o apoio para quem for encarregado desta tarefa.
Celia- Na proxima reuniao do conselho vou voltar a tocar neste assunto outra vez. Nao tem dinheiro, nao importa, da'-se um jeito. Se for preciso, cria-se um fundo especifico para isso.

Neto- Um psicologo custa $100,000.00 por ano. Onde e' que nos vamos arranjar esse dinheiro?
Celia- Uai, e porque que teria de ser um psicologo?
Neto- "Porque que teria de ser um psicologo?" voce quer ser responsavel para cuidar desses jovens?
Aurita- Neto, o que temos de fazer e' ir no Brasil e ver como este assunto e' tratado la',para podermos estruturar aqui...
Neto- Nao adianta! No Brasil e' a realidade e' outra.
Aurita- Certo, mas precisamos de estruturar este trabalho, porque sem estrutura nada da' certo. As empresas nao programam tudo?
Celia- Eh, temos de ter um plano. A outras igrejas que tem dedicado mais atencao aos jovens, a igreja onde a minha filha estuda, por exemplo, eu tenho conversado com os pais e eles tem programas especificos para os jovens. O envolvimento dos jovens na igreja croata, e' fantastico! Eles tem um um programa voltado para os jovens. Mas tem uma diferenca, a comunidade deles tem mais recursos, porque esse pessoal tem raizes aqui. Nao e' como na nossa comunidade, onde as pessoas vem para ca' fazer faxina, juntar um dinheirinho e voltar para o Brasil.

Davilmar- Eu participei de uma reuniao com mais algumas pessoas e o padre Jose' Carlos, onde ele disse que, com relacao aos jovens, o primeiro passo seria formar um grupo de trabalho para entrar em contato com a comunidade croata, ver como era o trabalho deles neste setor e, em seguida, contactar a diocese para ver que tipode ajuda poderiamos obter.
Celia- Parece que a pessoa escolhida para dar este primeiro passo nao tinha condicoes de fazer este trabalho. Pensou-se em outra pessoa tambem, mas a ideia nao evoluiu. Agora esse plano nao foi para a frente porque ele ficou doente, em seguida foi para Portugal e quando retornou foi para o Brasil. E depois ninguem mais lembrou de retomar o assunto.

Kiki- Voltando ao que o Neto disse ainda ha' pouco, eu acho que em vez de psicologo, esses jovens precisam e' de mais evangelizacao.
Davilmar- Eu acho que esse e' um dos aspectos que precisam ser abordados, mas pegar o jovem e colocar ele para ajudar a preparar uma missa nao vai funcionar...
Kiki- Nao, nao, nao e' isso nao, gente! O trabalho que eu conheco com o jovem no Brasil, nao e' assim nao.
Celia- Mas, essa forma de trabalhar com o jovem no Brasil, voce conheceu ha' quantos anos atras?
Aurita- Mas Celia, minha filha, a estrutura e' a mesma!
Celia- O que eu quero dizer que nao podemos abordar o jovem de hoje com metodos de 30 anos atras.
Kiki- Mas e' esse metodo que eu gostaria de transportar para o mundo de hoje, Celia. E depois, o Brasil de hoje nao utiliza o mesmo metodo de 30 anos atras.
Celia- Como e' hoje?
Kiki- Vou lhe falar, e' a maneira de se comunicar. Quando eu vou nas reunioes da Rosa Mistica, por exemplo, eu nao gosto da maneira que certas pessoas fazem uso da palavra para explicar certas passagens biblicas. Eles precisam utilizar uma linguagem mais atualizada. Na minha opiniao, um trabalho desse tipo com o jovem, tem de fazer uso de uma linguagem atual, do mundo de hoje.

Neto- A nossa realidade e' que nos somos uma comunidade de trabalhadores sem raizes. Nos viemos para ca', constituimos familias e o que acontece e' que os nossos filhos tem raizes e nos nao temos. Daqui ha' 30 anos, vamos ter um bando de brasileiros aposentados que vai acabar sendo voluntarios na igreja, porque eles nao vao ter nada para fazer. Vai ser eu, vai ser voce, vai ser o Davi, etc. Ai' a igreja vai ter a mao de obra que ela precisa! Hoje essa mao de obra nao existe. Ninguem pode sair ao meio-dia e ir dar assistencia a um jovem que esteja com um problema serio. Nao temos tempo para isso. Eu tenho feito isso, ou seja, sair do meu trabalho para ir a igreja providenciar alguma coisa ou participar de uma reuniao de emergencia, porque eu sou o dono da empresa onde eu trabalho. Voces nao podem fazer isso porque voces precisam trabalhar. Ninguem pode, gente! Essa e' a nossa realidade!
Davilmar- Porque que no Brasil e' diferente?
Neto- Porque tem muita gente que ja' se aposentou, e pode dedicar uma parcela do seu tempo para ajudar na igreja. Mesmo assim, nao e' tanta gente assim como era no meu tempo ou no seu tempo. Eu vejo a minha sogra, por exemplo, tentando levantar uma igreja la' no Brasil, vivendo as voltas com problema para contratar gente para trabalhar porque nao tem voluntarios. O padre de la' virou-se para mim e disse "Neto, so' muda a mosca..." Aqui e' do mesmo jeito, o grupo de jovens vai comecar e depois eles vao sumir. E' preciso que tenha uma pessoa, sentada num escritorio la' dentro da igreja, todos os dias, ligando pra' um e pra outro.
Davilmar- As igrejas protestantes conseguem resolver isso. Porque nos nao conseguimos?
Neto- Porque elas pagam um profissional para fazer esse trabalho. Esse profissional tem um emprego de coordenador do grupo de jovens, e ele ganha para fazer isso da mesma forma que voce ganha para fazer o seu trabalho. Agora, porque que na igreja catolica essa pessoa que vai fazer esse trabalho tem de ser um voluntaria? So' aposentado e' que vai fazer isso.

Nota: Esta entrevista foi feita no dia 12 de janeiro de 2008. O material, aqui transcrito, deve ser analisado considerando todas as implicacoes daquela epoca, embora o mesmo quadro, quando observado de uma certa distancia possa apresentar a mesma tonalidade com relacao a alguns aspectos.

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