quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Prata da Casa- SEBASTIAO FERREIRA

Me chamo Sebastião Gonçalves Ferreira, nasci em Belo Horizonte, a capital mineira. Cheguei em Nova Iorque em outubro de 1991 e retornei ao Brasil depois de 7 anos. Em 12 de abril de 2001, eu retornei a esta cidade, e permaneci ate’ agora, ou seja, já fez 7 anos outra vez. Quando cheguei a esta cidade pela primeira vez, morei um mês em uma pensão de uma senhora brasileira, chamada dona Rita, até encontrar uma amiga que vivia aqui e que era, vamos dizer, uma irmã de criação. Na verdade, essa senhora morou em nossa casa, no Brasil, por uns tempos, e a mamãe adotou ela como filha. Ela acabou casando com um porto riquenho e veio morar aqui em Nova Iorque. Morei com eles cerca de 2 anos.

Ter encontrado essa amiga aqui, sem falar nada de ingles, e sem conhecer ninguém, foi um fato muito interessante e que eu consider como um milagre de Nossa Senhora. Tem até uma história muito bonita a esse respeito que eu gostaria de contar prá voces numa outra hora. Nesse época eu não tive contacto com nenhum brasileiro aqui na América, e não tive notícia da existência de nenhuma comunidade brasileira em Nova Iorque. Eu trabalho, atualmente, como assistente de um engenheiro brasileiro numa empresa de fire/alarme. Este engenheiro produz os sistemas de alarmes e presta serviço para as Côrtes e para a Prefeitura de New York.

Depois daqueles dois anos iniciais, mudei-me para Astoria, e foi quando eu fiz os primeiros contatos com alguns brasileiros, a maioria são membros ativos de nossa comunidade católica, atualmente. Era uma turma que tinha muita vontade de criar uma comunidade mas, ainda não era um grupo organizado. Acredito que, por essa época, algumas pessoas deste grupo comecaram a frequentar uma igreja que tinha na rua 61, em Manhattan, e que tenham tomado a iniciativa de dar os primeiros passos no sentido de criar uma comunidade. Não queria citar nenhum nome pois tenho receio de omitir algumas pessoas. Todos foram importantes e eu os consider os pioneiros de nossa comunidade católica. Elma Reis, era uma dessas pessoas. Me lembro tambem da Regina e o atual marido, o Silvino. Hoje eles moram na Flórida. Tem a Soninha e a Aurita. Claro que não me lembro de todos eles, mas essas pessoas trabalharam muito para a criação desta comunidade que temos aqui hoje. Isso aconteceu por volta de 1992. Foi nessa época, que a Elma me convidou para assistir uma missa nesta igreja da rua 61, em Manhattan, cujo celebrante era um padre espanhol que falava português. A partir daí, foi que começamos a ter missas em nossa lingual. Foi nessa época que eu comecei a participar, cantando no coral. Acredito que este foi o início da nossa comunidade.

No Brasil, eu tive alguma experiência de trabalhar em um grupo que existia na Igreja de São Geraldo, no bairro de Rio Branco, em Belo Horizonte. Eu era uma espécie de auxiliar-geral e, vez por outra, fazia parte do Grupo da Liturgia. Mas não cheguei a ser um membro assíduo. Eu ia mais nos finais de semana. Mas eu sou filho de pais ativos na nossa comunidade católica. Meu pai, hoje falecido, José Gonçalves Ferreira, e minha mãe, Joana Matos da Silva, falecida depois que eu vim para a América, eram membros ativos da comunidade de lá. Meu pai, inclusive, era o responsável por uma igreja, na cidade de Sumidouro, perto da minha terra natal.

No início de nossa comunidade, aqui em Astoria, eu cheguei a ser um dos membros ativos, organizando a Liturgia, isso na época do Padre Checon e Padre Luiz, e participando do coral. Eu sempre gostei de cantar. Parei de cantar depois que eu tive um encontro com o Padre Roberto Lettieri, quando ele esteve em Boston e me conscientizei de que o momento em que voce recebea comunhão é muito especial e é um momento de silêncio absoluto de de voce para com Deus.Muitas vezes eu não me sentia muito a vontade recebendo a comunhão e ter de cantar ou de continuar cantando. Na minha opinião voce precisa ter um momento de interiorização depois que voce comunga. Daí eu ter preferido me ocupar mais auxiliando na liturgia, onde posso fazer leituras ou mesmo ser o comentarista das missas. Eu estou me aperfeiçoando com o tempo. Ninguém sabe tudo. Dentro das limitações que tenho com os meus horários, eu me coloco à disposição para ajudar em tudo que for preciso aqui na nossa comunidade.

Bom, além do que tive a oportunidade de falar nesta entrevista, eu quero acrescentar que, vejo esta nossa comunidade como uma família que eu ví nascer, ajudei ela crescer e estou no meio dela. Quando estive no Brasil eu sentí muita falta de tudo isso aqui porque eu amo todas as minhas irmãs e irmãos. A gente, que vive sozinho nesta terra, encontrar e fazer parte de uma comunidade como essa, preenche o vazio que existe em nosso coracao. Retornar ao Brasil depois de ter perdido o maior tesouro da minha vida, a minha mãe, me fez sentir essa realidade em toda a sua extensãso. Ficou uma lacuna muito grande dentro de mim e, tão logo tive oportunidade, retornei para o seio desta comunidade. Daqui só saio se for da vontade de Deus.

Quero aproveitar essa oportunidade para lembrar aos que permanecem aqui, da necessidade de reconhecer o esfôrço e o trabalho daqueles que ajudaram a criar esta comunidade e que tiveram que mudar para outro lugar ou retornar ao Brasil. Mesmo não estando aqui entre nós elas continuam sendo parte desta comunidade. A Cecília e o Xisto, a Rosângela Lima, que foram grandes líderes no início da comunidade. São muitos, e eu não queria citar nomes porque acabo esquecendo alguns. Eu por exemplo, criei e mantenho uma lista telefônica com os nomes de todas essas pessoas e, de vez em quando, faço um contato com um ou com outro, só prá saber como estão e dar noticia de nossa comunidade. Além disso, tenho uma quantidade enorme de fotos que eu fiz desta comunidade ao longo desses anos, e este acêrvo está no Brasil. Um dia eu trarei essas fotos e passarei para voce colocar neste trabalho de registro que voce vem fazendo. Ironicamente, eu fui a pessoa que mais fotografou nesta comunidade e sou o menos fotografado.

Agora, não é só lembrar dessas pessoas que já não vivem aqui nesta cidade, precisamos também reconhecer e valorizar o trabalho dos que permanecem aqui, dando continuidade a este trabalho. Éo caso da Aurita, Dona Zélia, Soninha, Neto, o pessoal do coral e a Alexssandra,por exemplo. Que os demais que eu não mencionei os nomes mem perdoem. Agora, nao podemos deixar de agradecer muito ao nosso Padre José Carlos, essa pessoa maravilhosa que chegou na hora que esta comunidade mais precisava dele. Graças à determinação e ao esfôrco dele hoje podemos dizer que a nossa comunidade chegou ao topo.

Entrevista concedida a Davilmar Santos, em 13/julho 2008.

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